Pássaro.

  Na maioria das vezes, sinto-me um passarinho enjaulado. Sinto-me como se estivesse presa dentro de algo que imobilizasse minhas asas. Aposto que quase todo mundo já se sentiu assim alguma vez na vida. Diga-me que sempre se sentiu livre. Diga-me que já se sentiu e ainda se sente completamente desimpedido de fazer algo que queira. Diga-me qualquer uma dessas coisas e eu saberei que você está mentindo. E como eu saberei? Eu saberei porque sei que isso é praticamente impossível. É praticamente impossível você ter sua completa liberdade. Você é refém da sociedade. É refém do que ela diz, pensa e faz.
  Você pode até não concordar com ela, assim como eu, mas ela sempre estará lá para nos oprimir. Em grande parte de nossas vidas, nós não passamos de pássaros com as asas cortadas. As coisas que a vida nos impõe, também nos prende. Eu não gosto nada disso. Não gosto da ideia de não poder fazer algo que eu queira porque estou presa a algo ou a alguém. Você não pode sair porque o seu namorado(a), cujo você ama muito, não deixa. Não pode viajar porque seu médico não deixa. Não pode amar quem você quiser sem o medo de ser julgado porque o preconceito não deixa. Nós não podemos fazer absolutamente nada e isso parte meu coração em mais de mil pedaços. Dói demais saber que nunca poderemos ser completamente livres. Dói demais saber que, talvez, nunca poderemos concretizar nossos sonhos mais secretos porque o que nos prende não deixa. 
  Acho que nunca vou me acostumar a isso: a prisão. Nunca vou me acostumar com a ideia da liberdade ilusória. Ou ela é real ou não é. Essa coisa de nos dar algo falso acaba comigo e com todos. Isso acaba com as nossas almas. Acaba com tudo o que nós somos. Ficamos desnorteados com essa ideia do falso real. As vezes me pergunto onde estão o sentido das coisas. Me pergunto onde estão as coisas verdadeiras que realmente valem apena lutar. Onde estão essas coisas? Onde estão essas coisas que nos motivam e nos libertam? Acredite, eu me pergunto isso todos os dias. Me pergunto onde estão os significados reais que nos impulsionam para a liberdade. Eu quero ser mais que um pássaro sem asas. Quero ser um pessoa com capacidade de mudar tudo ao meu redor. Quero ser um pássaro com as asas mais bonitas e fortes, para poder voar e respirar o ar puro da vitória. Quero ser algo mais. Eu sei que quero. Mas, na maioria das vezes, eu me sinto presa dentro de mim mesma. Sinto que sou capaz mas algo me prende fortemente. Quero acabar com essas correntes que me prendem ao chão. Quero acabar com todas as correntes que prendem vocês, pássaros, ao chão. É isso o que que quero: fazer algo para que a liberdade pare de se tornar uma ilusão e passe a se tornar algo completamente concreto. 
  E como eu sei disso? É o meu coração que está mandando. Ele está gritando de dentro do meu peito para que eu faça isso. Sabe por que? Porque ele sabe que eu quero ser mais que um pássaro sem asas.